Canabidiol: uma nova abordagem no tratamento do transtorno por uso de drogas
Postado em 24/04/2024 por Simples CannabisO Transtorno por Uso de Substâncias é considerado um problema crescente de saúde mundial. Estima-se que na américa do sul haja 2,8 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos acometidas. Infelizmente, o Brasil contribui com grande quantidade desse número, incluindo com uma porção importante com o uso de drogas consideradas de maior mortalidade e morbidade, como cocaína e crack.
Atualmente o Transtorno por Uso de Crack é particularmente sensível em relação ao tratamento, uma vez que é pareado com questões socioeconômicas de vulnerabilidade. É também uma droga agressiva, necessitando, por muitas vezes, o uso de múltiplas terapias e de fármacos concomitantemente, que aumenta o risco de efeitos colaterais e dificulta a adesão ao tratamento.
Nesse contexto, a Cannabis se apresenta como uma proposta promissora, atualmente sendo amplamente estudada. No último mês, um artigo publicado no International Journal of Mental Health and Addiction, o estudo “Cannabidiol Compared to Pharmacological Treatment as Usual for Crack Use Disorder: A Feasibility, Preliminary Efcacy, Parallel, Double‑Blind, Randomized Clinical Trial” testou o canabidiol (CBD) como tratamento para o Transtorno por Uso de Crack. O racional para o seu estudo, além da baixa eficiência das terapias atualmente disponíveis, se baseia na sua alta biossegurança e uso já comprovado para outras patologias com intersecções com a dependência quiímica, como ansiedade, problemas em apetite e sono, redução de crises de abstinência e manutenção de período abstêmio.
Este estudo comparou o uso de CBD, fluoxetina, ácido valpróico e clonazepam para o tratamento do Transtorno por Uso de Crack, durante 10 semanas de intervenção semanal, com grupo controle associado. Nessa análise foram incluídos homens e mulheres de 18 a 65 anos que usaram crack ao menos 20 vezes nos últimos 30 dias, com uso regular da droga por ao menos um ano como principal droga de abuso e tivessem a intenção de cessar o hábito. Pacientes com condições clínicas e mentais de saúde foram excluídos do estudo para evitar fatores confusionais por interação medicamentosa.
O grupo em Uso de CBD demonstrou resultados animadores, apresentando menos efeitos adversos em relação aos demais grupos, como tontura, queixas de memória e queixas psiquiátricas. No geral, também demonstrou superioridade estatisticamente significante na redução de uso de crack (p = 0.016) e melhora no quadro de saúde (p = 0,030).
O Canabidiol age nos receptores CB1 e CB2 decorrendo em um largo espectro de propriedades farmacológicas úteis em tratamentos médicos. O CDB diminui a sinalização dos receptores endocanabinóides e impede o funcionamento de enzimas associadas ao metabolismo de ácidos graxos associados à síndrome de abstinência, impactando diretamente sobre o Transtorno por Uso de Substâncias, com eficácia superior e menos efeitos colaterais, contribuindo para adesão medicamentosa e, por sua vez, ampliação da eficácia terapêutica.
O estudo em questão também demonstrou como desfechos de relatos de caso em contexto não hospitalar podem ser implementados em situações reais para produzir conhecimento científico, abrindo portas para uma diversa gama de estudos envolvendo fármacos de grande potencial como o CBD.